sábado, 15 de maio de 2010

Alguém que você não vê.

"Eu sou apenas alguém, ou até mesmo ninguém. Talvez alguém invisível, que te admira a distância sem a menor esperança de um dia tornar-me visível. E você? Você é o motivo do meu amanhecer, e a minha angústia ao anoitecer. Você é o brinquedo caro e eu a criança pobre, o menino solitário que quer ter o que não pode. Dono de um amor sublime mas culpado por querê-la, como quem a olha na vitrine mas jamais poderá tê-la. Eu sei de todas as suas tristezas e alegrias. Mas você nada sabe; nem da minha fraqueza, nem da minha covardia. E como em um filme banal, entre o figurante e a atriz princípal. Meu papel era irrelevante para contracenar no final."

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Apaixonar-se

Segundo alguns psicanalistas, quando se apaixona, você não se relaciona com alguém de carne e osso, mas com uma projeção criada por você mesmo; e a projeção que fazemos é a de um ser absolutamente perfeito. Mas depois de um período a projeção acaba, e você passa a enxergar de verdade a pessoa com quem está se relacionando. Invariavelmente, algumas virtudes do parceiro ou da parceira vão embora junto com a projeção, outras ficam .. e se o que ficou de cada um for suficiente para os dois, a relação perdura, caso contrário ninguém sabe o que faz o botãozinho ligar e iniciar uma nova projeção.

domingo, 2 de maio de 2010

Medo

"Medo de amar? Parece absurdo, com tantos outros medos que temos que enfrentar: medo da violência, medo da inadimplência, e a não menos temida solidão, que é o que nos faz buscar relacionamentos. Mas absurdo ou não, o medo de amar se instala entre as nossas vértebras e a gente sabe por quê. O amor, tão nobre, tão denso, tão intenso, acaba. Rasga a gente por dentro, faz um corte profundo que vai do peito até a virilha, o amor se encerra bruscamente porque de repente uma terceira pessoa surgiu ou simplesmente porque não há mais interesse ou atração, sei lá, vá saber o que interrompe um sentimento, é mistério indecifrável. Mas o amor termina, mal-agradecido, termina, e termina só de um lado, nunca se encerra em dois corações ao mesmo tempo, desacelera um antes do outro, e vai um pouco de dor pra cada canto. Dói em quem tomou a iniciativa de romper, porque romper não é fácil, quebrar rotinas é sempre traumático. Além do amor existe a amizade que permanece e a presença com que se acostuma, romper um amor não é bobagem, é fato de grande responsabilidade, é uma ferida que se abre no corpo do outro, no afeto do outro, e em si próprio, ainda que com menos gravidade. E ter o amor rejeitado, nem se fala, é fratura exposta, definhamos em público, encolhemos a alma, quase desejamos uma violência qualquer vinda da rua para esquecermos dessa violência vinda do tempo gasto e vivido, esse assalto em que nos roubaram tudo, o amor e o que vem com ele, confiança e estabilidade. Sem o amor, nada resta, a crença se desfaz, o romantismo perde o sentido, músicas idiotas nos fazem chorar dentro do carro. Passa a dor do amor, vem a trégua, o coração limpo de novo, os olhos novamente secos, a boca vazia. Nada de bom está acontecendo, mas também nada de ruim. Um novo amor? Nem pensar. Medo, respondemos. Que corajosos somos nós, que apesar de um medo tão justificado, amamos outra vez e todas as vezes que o amor nos chama, fingindo um pouco de resistência mas sabendo que para sempre é impossível recusá-lo."

sábado, 1 de maio de 2010

Outra vez.


"Tá limpo. Sem ironia. Sem engano. Amanhã, depois, acontece de novo, não fecho nada, não fechamos nada, continuamos vivos e atrás da felicidade, a próxima vez vai ser ainda quem sabe mais celestial que desta, mais infernal também, pode ser, deixa pintar. Se tiver aprendido lições (amor é pedagógico?), até aproveito e não faço tanta besteira. Mas acho que amor não é cursinho pré-vestibular. Ninguém encontra seu nome no listão dos aprovados. A gente só fica assim. Parado olhando os batimentos do coração. Pois é, vejam só, talvez não tenha sido desta vez."

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Não vai mudar, não vai voltar.

"Quando você se tornou uma sombra do que já foi um dia;
quando suas esperanças morrem;
quando você percebe o que poderia ter feito diferente, mas nunca poderá fazer agora;
quando você quer mais do que tudo, apenas segundo do seu passado jogado fora,
só esse segundo para dar uma razão, um sentido novamente para o que você é;
talvez uma segunda chance para fazer tudo diferente;
talvez um recomeço;
mas nunca um final;
e então você percebe que é impossível;
é algo que não voltará;
e por mais injusto que tenha sido;
por mais vazio que seja agora;
não irá corrigir
talvez tudo fique apenas como está
e talvez tudo o que se tenha a fazer é seguir;
mesmo com uma certeza de que;
nunca mudará;
seu passado, nunca voltará."

Carlos Eduardo Rodrigues.

I think I will never let it die.



É triste saber que um dia vou ver você passar e não sentir cada milímetro do meu corpo arder e enjoar. É triste saber que um dia vou ouvir sua voz ou olhar seu rosto e o resto do mundo não vai desaparecer. O fim do amor é ainda mais triste do que o nosso fim.
Meu amor está cansado, surrado, ele quer me deixar para renascer depois, lindo e puro, em outro canto, mas eu não quero outro canto, eu quero insistir no nosso canto.
Eu me agarro à beiradinha do meu amor, eu imploro pra que ele fique, ainda que doa mais do que cabe em mim, eu imploro pra que pelo menos esse amor que eu sinto por você não me deixe, pelo menos ele, ainda que insuportável, não desista.

sábado, 17 de abril de 2010

Ei, você!

Eu fiquei aqui pensando no que te escrever. Na verdade, não é bem pra você, é pra mim. É pra sair um pouco do que tá preso aqui dentro, essas letras contidas em um copo que transborda pelos lados. Tou tentando arranjá-las em sílabas corretas, reorganizar o desorganizado. Talvez nem precisasse tentar traduzir isso, dói ainda, sabe? Aliás, dói demais. Sufoca. Não é aquele sufocamento que eu tinha te descrito há um tempo atrás. Existe uma diferença, aprendi. O de antes, era algo querendo sair, explodir. O de hoje, é o ar se esvaindo, se perdendo, agonizando. Mas você não tem absolutamente nada a ver com isso, não é mesmo? Só queres abrir essa porta e ir logo embora para o teu mundo. Eu acho que perdi o endereço da tua casa porque sempre chego uma rua antes ou na avenida posterior. Confesso que só aprendi as referências: a cafeteria perto, o banco do lado, a praça bonita, você nunca achou importante o fato de eu saber ou não chegar a sua casa, a sua cama. Me explica o que você acha importante quando a gente se encontrar um dia e der um tchauzinho meio de longe, com um sorriso aguado,por favor. Dois segundos, é tudo o que eu peço pra você. Apenas esses segundos para me explicar claramente o motivo de você ter me encontrado, ter alimentado a coisa mais bonita que já existiu em mim, me explicar o tempo. Conta, ou pelo menos inventa algo menos tosco do que as tuas mentiras diárias, o porquê você me escolheu, se é que isso foi uma escolha. Você sente falta de mim? E se por acaso sente, como é que passa com essa tua ausência, me ensina a fórmula? Me diz como amar de menos, sentir pouco e fazer outro acreditar na “intensidade” das frases.
Fico aqui pensando no teu rosto, me recrimino por deixar qualquer tipo de lembrança me invadir. Mas parece perseguição: as ruas ganharam o teu nome, as pessoas se multiplicaram, alguém coloca cartazes mostrando o quanto o meu peito aperta quando me vem algo seu. E eu não tou escrevendo nada disso para me lamentar, nem para te chamar de egoísta ou qualquer coisa do tipo. Não te quero mais. Eu vou engolir cada querer reprimido, você sabe. Por mais que minha alma trema toda vez que telefone toca e eu viva em constante alerta por sua causa, acreditando que tudo é ilusão e que você está me esperando na próxima esquina. Eu não vou ceder. Além do mais, você rasgou o seu texto, enterrou o seu personagem no meu palco, deu fim à peça. Ai, meu amor, por onde será que anda a nossa poesia silenciosa?
Cansei de dançar música lenta sozinha, talvez eu precise mesmo é de uma bossa. Algo para abrir os meus poros e solidificar as paredes. Te odeio por te amar demais, por te querer demais, por sair assim sem pedir licença e levar contigo as minhas certezas. Morro de raiva de você e, ao mesmo tempo, de amor. Morro de manhã e renasço à tarde.
Não quero mais, quero mais.

Agora, eu posso ir.